A Porca do Dente de Ouro
Recebeu esse nome pois possuia um dente de ouro.
Outra assombração de Teresina. Mais nova que a Não-se-Pode e o Cabeça-de-Cuia. Há coisa de mais ou menos uns trinta e poucos anos. Lá pelos fins das eras de trinta. O mais interessante é que apareceu fazendo das suas com aquelas assombrações sem termo durante pouco espaço de tempo. Durou apenas coisa de uma meia dúzia de janeiros. A seguir, tomou chá-de-sumiço, e até hoje!
De gente entendida e dada aos estudos de tais assuntos, só Vítor Gonçalves Neto escreveu sobre ela, isto mesmo de passagem, em ligeiras pinceladas.
Pois é. Por escrito, até que não. Oralmente, entretanto, na boca do povo, a Porca-do-Dente-de-Ouro foi (e ainda é) por demais comentada e discutida entre nós
Contam que ela só saía à rua alta-noite. E com mais uma particularidade: suburbada. Nunca que uma vez sequer fora vista por alguém no centro da cidade. Como atravessava, por exemplo, de uma bairro da região norte para um da região sul sem ser observada no centro da cidade, era o que ninguém sabia. Perambulava pelos subúrbios, sendo de sua preferência Porenquanto, Mafuá e Cajueiros. Isto não quer dizer que também não rondasse Vermelha, Barrocão, Piçarra, Catarina, Ilhotas, Matinha, Matadouro e quejandos. Percorria tudo.
Era uma porca velha grande, magra feia de doer. Pelada e de tetas tão grandes, chega as pelancas arrastavam no chão, por onde passava. Provida de uma tromba crescida e coberta de uma coisa brilhosa de onde saía aquela ponta saliente como se um monstruoso dente de ouro. Daí veio seu nome de batismo - Porca-do-Dente-de-Ouro.
Quanto à sua origem, não há divergência, não há versão. Todos que a comentam falam por uma boca só, contando a mesma estória. Foi que certo e determinado dia, uma moça da raia-miúda, namoradeira e diz que até já intitulada, travara uma briga sem termo e sem cabimento com a velha sua mãe que era um anjo-de-bondade. Aí se atracou com a pobre velha e deu-lhe uma bruta dentada no rosto que arrancou o tampo. Então ficou aluada, completamente maluca. Passou a viver trancada num quarto, sem querer dadas nem tomadas ou mesmo qualquer conversa com alguém. Via apenas a velha sua mãe que lhe levava a comida. E mais: de quando e vez, meia-noite, transformava-se em porca e saía pelos subúrbios fazendo mal-assombrados.
A Porca-do-Dente-de-Ouro
Letra e música: Enes Gomes
A porca-do-dente-de-ouro surgiu
Mas nunca encontrei alguém que a viu assim de pertinho
É pintura, é assombração correndo na noite
Fuçando, grunhindo, assustando a população
No Poti Velho, Bairro dos Noivos
No Porenquanto, na Macaúba
Na Primavera, na Catarina
Conta a lenda que uma moça das bandas da Catarina
Enfurecida, brigou e deu uma dentada na sua mãe
O que é isso menina?
Foi castigo, virou uma porca-do-dente-de-ouro
E em uma só noite ela pode assustar
Lá na Piçarra, no Mafuá
No cajueiro, lá na Vermelha
Lá na matinha, no Matadouro
A porca-do-dente-de-ouro surgiu
Mas nunca encontrei alguém que a viu assim de pertinho
Mas dizem que se alguém arrancar o seu dente de ouro
Acaba o encanto da moça, voltando ao normal
Mãe é sagrado, são tantos conselhos que ensinam a viver
A gente pinta e borda mas tem que ter todo o respeito e consideração
Viva a vida, que Deus nos ajude a viver e a espalhar
A alegria, a paz, o amor, a esperança e o perdão
Lá no Saci, no Mocambinho
No Promorar, lá no São João
Nos Três Andares, no Jóquei Clube
Lá na Ininga, Monte Castelo
Lá na Prainha, bairro São Pedro
Na Bela Vista, no Santa Fé
No Renascença, lá na Redonda
Todos os Santos, Morada Nova...